Juventude Samaritana


O encontro pessoal com o Cristo crucificado é possível, através do povo pobre e oprimido. Descer da cruz os que clamam por ressurreição é missão de todo cristão consciente de que Jesus de Nazaré, antes de ser um projeto de Igreja, é um projeto que traz ressurreição e vida. Indignar-se, libertar-se, estar junto em retirada inclusiva. Esse é o compromisso do jovem missionário que caminha no amor, como discípulo junto ao povo.

Muito além dos discursos demagógicos e hipócritas dos levitas e mestres da lei, ser presença samaritana é experimentar a compaixão, em especial nas angústias e sofrimentos daqueles que estão à margem. Na fase em que ocorre a lapidação da personalidade, o jovem é convidado pela missão a enraizar sua identidade no amor que rompe as fronteiras do preconceito e da indiferença. Longe de legitimar a cultura moderna do consumo que é insensível, egoísta e cruel, a juventude deve promover a cultura do encontro.

Opção pelos pobres
Essa postura que aproxima as pessoas e faz brotar o divino só germinará quando existir a compreensão de que, antes de longas orações e louvações nos templos, a exemplo dos especialistas em leis, faz-se urgente uma juventude samaritana. Essa deverá amar concretamente na compreensão de que só é próximo aquele de quem eu me aproximo. Assim, deve-se assumira postura de quem compreende que "a Igreja fez uma opção pelos pobres, entendida como uma forma especial de primado na prática da caridade cristã" (EG 198). Jesus, ao denunciar as práticas de poder e opressão dos que praticavam holocaustos e sacrifícios como uma forma de status por estarem diante das pessoas, inverte a compreensão de Deus e as práticas de oração. "Amar a Deus de todo o co¬ração, de toda a mente, e com toda a força, e amar o próximo como a si mesmo, é melhor do que todos os holocaustos e sacrifícios" (Mc 12, 33).

Paralíticos, cegos, leprosos, adúlteros e outros tantos, são todos oprimidos às margens. Excluídos, são figuras invisíveis que hoje se multiplicam devido à cultura da indiferença. "Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem" (EG 2).

Os jovens encontram-se entre os crucificados da atualidade, vitimados pela falta de políticas públicas, pelo desemprego que atinge principalmente essa faixa etária, pelo extermínio que ceifa a vida de cerca de 27 mil deles por ano e tem como principal causa os homicídios e atinge os mais pobres. Diante dessa realidade, é omissão assumir a postura do "sacerdote", que, subindo ao templo para rezar, ao ver o homem caído e quase morto, afastou-se, ou a atitude do levita, que tratou com indiferença àquele que necessitava de ajuda (cf. Lc 10,25-38). É necessário que os grupos juvenis assumam a prática do samaritano, que como fiel missionário de Jesus, promove a aproximação aos pobres e aos outros para libertá-los da opressão da lei, do preconceito e da exclusão.

Guilherme Cavalli
Secretário Nacional da Pontifícia Obra da Propagação da Fé

Comentários