Reflexão da Mensagem para o Dia Mundial das Missões


O papa Francisco proclamou 2015 como o Ano da Vida Consagrada. Por isso, logo no começo de sua Mensagem para o Dia Mundial das Missões 2015, ele recorda que existe uma forte ligação entre Vida Consagrada e a Missão, ao mesmo tempo em que recorda o compromisso primordial de todo batizado “chamado a testemunhar o Senhor Jesus proclamando a fé recebida como um presente”.

O Dia Mundial das Missões é comemorado, desde 1927, no terceiro final de semana de outubro. Este ano será nos dias 17 e 18.

A dimensão missionária - afirma o papa Francisco - que pertence à própria natureza da Igreja”, tem sua origem em Deus que se revela na pessoa de Jesus Cristo, seu Filho enviado. Seguindo Cristo, que tanto em sua natureza divina quando na humana transborda, sai de si, pelo grande amor que tem por toda a humanidade, a Igreja permanece fiel a “uma missão verdadeira”. Por isso, ela convoca as mulheres e homens que O seguem a assumirem plenamente esse mesmo caráter missionário, não como “proselitismo ou mera estratégia”, mas como base para todo ser cristão. Isso porque “a missão faz parte da gramática da fé” e é algo “imprescindível para quem escuta a voz do Espírito que sussurra vem e vai. Quem segue Cristo se torna missionário e sabe que Jesus «caminha com ele, fala com ele e respira com ele. Sente Jesus vivo junto com ele no compromisso missionário» (EG, 266)”.

O papa recorda ainda que o encontro com Jesus é fundamental para assumir a missão. “A missão é ter paixão por Jesus Cristo e ao mesmo tempo paixão pelas pessoas”. É por esse motivo que Jesus convoca todos à ternura a partir do seu próprio “coração transpassado e se estende a todo o povo de Deus e a toda a humanidade”. Assim, compreende-se que a atividade missionária da Igreja, que é antes de tudo a realização do amor, acontece a partir de dois encontros: com o próprio Jesus e com as pessoas. 

Como exigência para a missão, Francisco ressalta o “dom total de si mesmo”. A partir da entrega confiante, característica de quem ama. Deus quer “servir-se de nós para chegar cada vez mais perto de seu povo amado (cf. EG 268) e de todos aqueles que O procuram de coração sincero”. Compreende-se assim o mandamento do “ide”, que corresponde hoje aos desafios e às alegrias da ação evangelizadora da Igreja, ambos assumidos por quem acolhe a missão. Por isso, “é urgente repropor o ideal da missão em seu centro: Jesus Cristo, e em sua exigência: o dom total de si ao anúncio do Evangelho. Não pode haver tratativa sobre isso: quem, pela graça de Deus, acolhe a missão, é chamado a viver de missão. Para essas pessoas, a proclamação de Cristo nas várias periferias do mundo torna-se o modo de como viver o seguimento a Ele, sendo esse próprio viver a recompensa de muitas dificuldades e privações”.

Quem são os destinatários privilegiados do anúncio evangélico?
O papa Francisco sintoniza com a caminhada da Igreja latino-americana em sua opção pelos pobres e oprimidos. Em várias ocasiões ele utiliza elementos da teologia latino-americana para expressar a urgência de uma nova ordem social pautada na cultura da esperança e do encontro, contrapondo a cultura da indiferença e da exclusão. “Este imperativo de ouvir o clamor dos pobres faz-se carne em nós, quando no mais íntimo de nós mesmos nos comovermos à vista do sofrimento alheio” (EG 193). Na Mensagem o papa retoma esse aspecto e lembra que “os pobres, os pequenos, aqueles que não podem retribuir (cf. Lc 14, 13-14)” devem ser os principais destinatários do anúncio evangélico. “Existe um vínculo inseparável entre a nossa fé e os pobres. Não os deixemos nunca sozinhos”, afirma. 


A Mensagem lembra outro desafio da missão hoje. Os novos tempos exigem uma prática solidária que busque “respeitar a necessidade de todos os povos” para “recomeçar de suas raízes e salvaguardar os valores de suas respectivas culturas. Trata-se de conhecer e respeitar as outras tradições e sistemas filosóficos e reconhecer, em cada povo e cultura, o direito de fazer-se ajudar por sua tradição na inteligência do mistério de Deus e no acolhimento ao Evangelho de Jesus, que é luz para as culturas e sua força transformadora”. Assim, o papa Francisco retoma o Concílio Vaticano II que sublinha a importância da inculturação da fé. Nessa atitude de evangelização inculturada, as Igrejas locais devem promover o encontro das pessoas com Jesus presente no mundo.

O papa recorda ainda os 50 anos do Decreto Ad Gentes sobre a missão. A Obra Missionária tem um horizonte universal. “Por isso precisa também dos muitos carismas da Vida Consagrada, para se dirigir ao vasto horizonte da evangelização e ser capaz de garantir uma presença adequada nas fronteiras e territórios alcançados”. E citando o Decreto ressalta o dever dos cristãos: “os leigos colaboram na obra de evangelização da Igreja, participando como testemunhas e como instrumentos vivos da sua missão salvífica” (AG, 41). Em suma, tomando como modelo a Vida Consagrada, Francisco reforça que todos os batizados são cooperadores na missão de Deus.

Confio a Maria, Mãe da Igreja e modelo de missionariedade, todos aqueles que, ad gentes ou no próprio território, em todos os estados de vida, colaboram com o anúncio do Evangelho”, finaliza o papa.

Guilherme Cavalli
Secretário nacional da Pontifícia Obra da Propagação da Fé.
Publicado no SIM, n. 3 – julho a setembro 2015. 


Comentários