Amazônia, terra de missão para a Juventude Universitária


Nas férias escolares e em plena Copa do Mundo de futebol, sete jovens universitários fizeram uma escolha pouco comum. No dia 22 de junho eles partiram para a Amazônia onde permanecerão até o dia 12 de julho percorrendo várias regiões como a diocese do Alto Solimões. Os jovens estão tendo a oportunidade de conhecer a realidade e cultura dos indígenas Ticunas, na fronteira entre a Colômbia, Peru e Brasil.


Esta é a 1ª Experiência Missionária Universitária e foi promovida pela Comissão Episcopal para a Amazônia e Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura e a Educação, por meio do Setor Universidades da CNBB. Acompanharam os jovens alguns missionários da Região e assessores da CNBB.

O diretor das Pontifícias Obras Missionárias, padre Camilo Pauletti, também esteve com o grupo entre os dias 19 de junho e 01 de julho e conta o que vivenciou por lá.

Amazônia, terra de missão
Estive com um grupo de jovens da Pastoral Universitária na diocese de Alto Solimões (AM). Os ainda continuam as atividades até o dia 12 de julho convivendo com os índios Ticunas.

Para mim foram dias de contato com a realidade do povo, seja nas cidades de Tabatinga, Benjamin Constant, Atalaia do Norte, Letícia na Colômbia e Santa Rosa e Islândia no Peru. Visitamos as comunidades ribeirinhas e indígenas. Também estivemos em duas Universidades e em um Instituto Técnico Federal. Conversamos com os professores e estudantes. Além disso, convivemos com os missionários que trabalham naquela área. Nosso grupo era composto por duas religiosas, dois padres e sete jovens de diferentes partes do Brasil. Acompanhou-nos em parte, a leiga missionária de Campinas (SP), Izalene Tiene e o frei Paulo Xavier de Benjamin Contant. A preparação do grupo para está missão, foi organizada pelas Irmãs Irene, assessora da Comissão Episcopal para a Amazônia e Irmã Maria Eugênia Lloris, assessora nacional do Setor Universidades da CNBB.

O contato com as várias realidades, nos fazem ver a beleza da natureza e da vida, assim como os sofrimentos e a solidariedade em busca da defesa da vida. Para quem chega num lugar que não conhece, precisa primeiro tirar as sandálias e respeitar o novo espaço sagrado. É importante ver, ouvir e perceber o que se passa neste novo ambiente.

A vida no Alto Solimões, não é tão diferente de outros lugares, mas tem suas peculiaridades. É forte a presença indígena, muitos se misturaram nas cidades com a população local, outros continuam com sua cultura indígena nas aldeias. O clima é normalmente quente e úmido. As águas com seus os rios, são a principal via de locomoção com seus barcos de diversos tipos. Nas cidades há grande movimento de motos. Não é exigido habilitação e poucas são as que possuem documentos. A circulação de pessoas entre as fronteiras da Colômbia, Peru e Brasil é livre, assim como o comércio e as variedades de produtos. O ambiente é aparentemente tranquilo, mas fala-se que é um corredor de tráfico de drogas. As terras planas são facilmente invadidas pelas águas. Muitas casas são suspensas do chão como palafitas. No tempo das cheias, sempre há desabrigados. Quando as águas baixam, os ribeirinhos aproveitam para plantar bananeira, mandioca, milho, melancia, maracujá e hortaliças.


A viagem para as grandes cidades como Manaus, Bogotá ou Iquitos, é muito custosa. De barco pode levar vários dias e de avião o preço é muito alto. Muitos produtos têm preços elevados por causa do transporte, outros são mais baratos por serem do local ou porque são adquiridos nos países vizinhos. O sistema de comunicações é precário, a Internet é fraca e telefone funciona em alguns pontos. Mas os jogos da Copa do Mundo são sucesso na televisão.

Na região observa-se contrastes entre a riqueza natural, a biodiversidade e o abandono do poder público, recursos mal empregados. Para quem já esteve no local antes, percebe que há melhorias na defesa da vida. Os jovens indígenas desejam estudar, pois acreditam que o estudo é uma forma de crescer no saber para depois voltar às aldeias para ajudar seu povo melhorar a situação.

Na diocese de Alto Solimões existem vários grupos de Infância e Adolescência Missionária (IAM) e, com o apoio das religiosas, manifestam fervor e crescimento.


As distâncias para viajar das aldeias à cidade são grandes e sofridas. No Vale do Javari habitam diversas etnias, algumas ainda não tem contato com outra população. Os missionários do Conselho Indiginista Missionário (Cimi), fazem um belo trabalho, mas são poucos e com recursos limitados.

Outro problema sério é o lixo, não sabem onde colocar. Parte vai para as águas dos rios outra parte vai para os lixões nas cidades onde é disputado pelos pobres, cachorros e urubus.

A exploração da madeira continua acontecendo de forma clandestina. As madeireiras no lado do Peru funcionam sem controle.

Em nossa percepção há aspectos bonitos e positivos. Cristo se faz mais próximo e se dá a conhecer com mais evidência através dos pobres. Nas relações sobressai o coletivo e menos o individual, isso nas comunidades e nos missionários. As relações humanas se mostram mais calorosas, diretas e são prioritárias. Valorizam o que é essencial na vida. A dedicação dos missionários é notável. São amados e queridos pelo povo, embora em muita situações, não conseguem atender a tantas necessidades, seja na evangelização, acompanhamento do povo e das comunidades, assim como na defesa da vida.

A acolhida é fraterna e a abertura de coração é percebida, tanto nas casas como na partilha do que se tem.

É significativo ver a gratidão das pessoas pela nossa presença. Elas se sentem valorizados.
Sentimos a alegria da hospitalidade e da fraternidade franciscana nos frades Capuchinhos. Eles tem sido exemplares conforme as recomendações do fundador São Francisco.

Toda esta vivência, manifesta a presença de Deus naquelas terras de missão. Por outro lado, escutamos o apelo para ajudar e que mais pessoas se disponham a ir trabalhar como missionários na Amazônia.

Padre Camilo Pauletti, diretor das POM no Brasil.

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