Natal em chão africano



O continente africano é um solo cheio de particularidades e dono de uma cultura que, segundo os historiadores, é milenar e abriga o berço da humanidade. Neste imenso continente, o povo moçambicano tem como características marcantes a diversidade, seja na cultura, nos ritos, nas crenças.



Nesse mundo de diversidade está a Festa do Natal, celebrada pelos cristãos que se unem à Igreja em todo o mundo para cantar o nascimento de Jesus Cristo. Padre Camilo Pauletti, diretor nacional das Pontifícias Obras Missionárias (POM), participou dessa festa pela primeira vez em 1999. Foi um momento que marcou sua vida porque ali viu um Natal celebrado de maneira simples, despojada, sem a preocupação dos presentes, da comida farta, enfim, dos excessos. “Não havia nenhum enfeite, nem luzes, nem músicas e nem presentes. Presépios, nem pensar. Imagens do menino Jesus, não havia”, testemunhou o missionário em seu livro, “Partilhas da África”.

Naqueles dois dias [24 e 25 de dezembro] o missionário estava a 50 quilômetros da casa onde morava. A véspera de Natal ele havia passado na Comunidade de Jacagiwa e à tarde na Comunidade de Natomoto. Pela manhã foram feitos alguns batizados de crianças e, quanto mais o tempo passava naquele dia, mais o missionário se questionava e se fazia curioso com o que via. Era um Natal diferente porque movido pela alegria, não pelos presentes; pelo nascimento do filho de Deus, não pela variedade de comidas; pelo amor mútuo, não pelo amigo secreto.

O povo cantava, sorria, suava de tanto pular. A noite estava bem escura, estrelas vivas cintilavam no céu, parceriam estar bem próximas de nós”, escreveu. Um comentário com a missionária que o acompanhava, irmã Norma Carbonera, selaria aquela noite natalina, experiência única que jamais esquecerá. ‘Que Natal diferente e estranho estávamos experimentando!’. Por um lado, sem aquele barulho tradicional do nosso Brasil e, por outro, a alegria daquele povo, festejando de forma tão simples e própria. Perguntei-me se quando Jesus nasceu não seria algo parecido com o que estava ali vendo”.

Abaixo, transcritas na íntegra, as palavras simples do livro “Partilhas da África”. Frases que relatam aquele dia de Natal tão próprio, tão simples e cheio do amor do filho de Deus. É diferente e é um convite missionário para você experimentar também.


Noite de Natal em Moçambique
A noite foi de barulho, os batuques não pararam. Gritos alegres e festivos. Foi difícil dormir. Eram seis da manhã quando sossegou um pouco. Já era claro, o dia 25 iniciava, nos despedimos da comunidade e andamos mais 20 quilômetros até chegar na capela de Mpacane, onde nos esperavam. Lá o movimento era grande, pois havia um grupo de mais de 50 crianças para batizar e era dia da inauguração da comunidade. O povo tinha passado a noite dançando. Acolheram-nos com cantos e muita alegria. Eram mulheres procurando lenha e fazendo fogo para preparar comida, outras trazendo água de algum lugar distante. Umas pilavam mandioca e um grupo de homens recém chegados tinha matado um cabrito que deveria ser servido no almoço do dia festivo. Lá estavam umas quinhentas pessoas.

Ali vi a partilha do alimento, o sorriso aberto, o suor pelos rostos, as expressões de satisfação pelo grande dia. Que Natal diferente! Era Jesus presente, renascendo naquele mundo, quem sabe, muito mais próximo do próprio Jesus.

Não esqueço o meu primeiro Natal em Moçambique. Hoje, fico olhando e sentindo todo o movimento do nosso Natal. Todos os enfeites, músicas, presentes, luzes, cheiros de comidas, chocolates, perus, churrascos, bebidas em fartura, roupas novas, carros novos, comércio, lucros, férias etc. Lembro da África, que diferença!

Pergunto-me: onde está o menino Jesus? Afinal, e o aniversariante, há espaço para ele? É recordado ou recebe alguma homenagem, algum presente? O menino Jesus quer espaço em nossos corações, nas famílias e comunidades de uma forma simples, como ele é. “Hoje vos nasceu um Salvador, que é o Cristo Senhor” (Lc 2,11)

(Transcrito das pág. 86 a 88)
FONTE: Informativo SIM - POM

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